Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

27 de junho de 1980

Marcus Moraes Accioly

Poética-Popular

Orientação: Francisco César Leal
Área de Concentração: Teoria da Literatura

Resumo: Urge, produto-texto, um levantamento lato sensu da Tradição Nordestina ou, strictu sensu, da Poesia-Folclórica e da Poética-Popular que entraram – o termo é próprio – na obra erudita de alguns dos nossos poetas e, parelelo a esse apanhado, também faz-se necessário uma Poética-do-Cordel, da-Viola e do-Pandeiro. A praxe seria reproduzir, através de um bom autor, o corpus do sabor tradicional do povo (Folk-Lore) ou, por intermédio das pesquisas múltiplas, estabelecer uma base verossímil sobre a poesia escrito-oral, isto é – como diria João Cabral de Melo Neto – da geórgica de Cordel. Contudo, para aplicarem-se à análise comparativa de textos, os estudos ora são falhos, ora incompletos, pois, além da matéria não ter ainda recebido um tratamento mais específico, a métrica e a rítmica dos intertextos, oriundos da junção ou disjunção das formas, resultam, por vezes, na polissemia (em seu sentido próprio e não como neologismo) dos sons. Assim, a caráter, impõem-se um exame preliminar acerca dos “usos, costumes, cerimônias, versos, romances, refrão, superstições, etc” (William John Thomas, carta publicada em The Atheneum, de Londres, 22/08/1846), ou – à Guimarães Rosa – os usares que levaram tais poetas eruditos, pelas vias populares, à – qual diriam os portugueses – sua Gaia Ciência ou Arte de Poetar. Decerto que consideramos como sendo inovadora essa correspondência erudito-popular, que vai do místico ao profano, do moral ao amoral e imoral, passando das orações aos cantos, dos cantos aos Folguedos; e dos Folguedos aos Espetáculos da Literatura-Folclórica: as Ladainhas, as Novenas, os Benditos, as Excelências ou Inselências, as Doenças e Males (espinhela-caída, flato, feitiço, soluço, cobrelo, argueiro – curados com benzeduras em cruzes e rezas cantadas), as Lendas (mula-de-padre-com/ou-sem-cabeça, cabra-cabriola, caga-grosso, caipora, bicho-papão, pega-menino, papa-figo, lobisomem) de Assombração, as fitas da Cavalhada, ou auto do Cavalo-Marinho, o teatro do Bumba-meu-boi, a nação do Maracatu, a festa do Reisado, a marcação da Quadrilha, o Samba-de-Matuto – Coco e Sapateado – a cobra ondulada da Ciranda, a dança do Pastoril-Religioso e do Pastoril-Fescenino, os marujos da nau Catarineta (Fandango, Chegança, Marujada), a tribo dos Caboclinhos ou Cabocolinhos, as Adivinhas ou Adivinhações, os Ditados – enfim – a gruta, a furna, a caverna o ventre do Nordeste parindo os monstros – sagrados ou hereges – os bichos, as fábulas do Litoral e da Mata, do Agreste e do Sertão. Aqui começa o Realismo-Épico.

» E-book disponível para acesso na Sala de Leitura César Leal - Centro de Artes e Comunicação - Campus UFPE

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