Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

17 de março de 1997

Joana D’Arc de Mendonça Cavalcanti

Literatura Infantil e Psicanálise: leitura de “Mulheres de Coragem” (Ruth Rocha)

Orientação: Sebastien Joachim
Área de Concentração: Teoria da Literatura

Resumo: O projeto de intercambiar Literatura Infantil e Psicanálise surge da observação de que a experiência de leitura no período da infância enriquece a visão de mundo da criança, tornando-a mais capaz de compreender seus conflitos internos. Lendo, realiza também uma leitura de si, percorrendo, então, o caminho do seu próprio desejo. Partimos do pressuposto de que a nossa compreensão do mundo estabelece-se a partir da entrada no simbólico. Assim, entre dois dos dizeres psicanalítico e literário, pelo viés da linguagem apontamos a literatura como espaço próprio para se ampliar o mundo simbólico. Desta forma, para fundamentar nossa hipótese, realizamos uma análise do livro de contos Mulheres de Coragem, de Ruth Rocha tomando como método a proposta de Catherine Wieder que entende que o entrecruzamento entre literatura e psicanálise deve acontecer pontuado pela relação triangular entre texto-leitor-autor. Viabilizamos nosso trajeto acompanhando um caso clínico, nomeado por nós como “A Menina ‘N’: esperando o renascer”, no qual confirmamos nossas hipóteses a partir do momento em que a menina “N” escolhe o livro mulheres de coragem como seu principal dizer durante várias sessões terapêuticas. Na primeira parte, tratamos da análise do conto Mulheres de Coragem tomando como diretriz a teoria psicanalítica de Melanie Klein, enfatizando os estados esquizoparanóides fundamentadores da formação egóica, como também da estrutura psíquica do sujeito. Tratamos também dos processos de busca e escolha do texto apontando sempre para as relações identificatórias e de expecularização nas quais estão envolvidos o texto e o leitor. Ainda nesta parte, apontamos alguns aspectos psicanalíticos envolvem a estrutura de Ruth Rocha e, conseqüentemente, a recorrência temática dos textos da autora. Na busca de uma aliança entre teoria e prática, seguimos para a segunda parte produzindo uma análise do conto Lenda da Moça Guerreira, realizando uma abordagem sobre os conflitos edípicos baseando-se nas teorias freudianas, como a metáfora paterna “Em-nome-do-pai” e algumas informações de Jacques Lacan, principalmente o triângulo de quatro vértices. Numa terceira parte, focalizamos o momento de castração no qual deverá ocorrer o declínio dos conflitos edípicos e, conseqüentemente, uma busca maior pela conquista da maturidade e individuação. Na quarta e última parte, tentamos realizar uma articulação entre as teorias e textos apresentados, tecendo algumas considerações entre literatura-criança-psicanálise concretizadas no estudo de um caso clínico, “A Menina ‘N’: esperando o renascer”, o qual tivemos a oportunidade de acompanhar durante dois anos e de fundamental importância para o desenvolvimento da nossa pesquisa. Finalmente, nossa dissertação pretende apresentar a literatura como abertura para o múltiplo, dizer inesgotável capaz de suscitar inúmeros trajetos possibilitadores de uma vivência mais rica, na qual o vir-a-ser assegura a verdade da relação entre o real e o fictício.

» E-book disponível para acesso na Sala de Leitura César Leal - Centro de Artes e Comunicação - Campus UFPE

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