Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

30 de março de 1998

Maria Auxiliadora Lustosa Coelho

Atitudes Lingüísticas do Nordestino do Submédio São Francisco

Orientação: Maria Irandé Costa Morais Antunes
Área de Concentração: Linguística

Resumo: Este trabalho constitui uma análise das atitudes lingüísticas de nordestinos do Submédio São Francisco, região atingida pela construção da hidroelétrica de Itaparica. Partimos da hipótese de que o nordestino do Submédio São Francisco que foi para São Paulo, por ocasião do enchimento do lago de Itaparica, e manteve contato com falantes paulistas, ao regressar a sua terra, manifesta atitudes negativas em relação ao seu próprio falar (culturalmente estigmatizado) e positivas em relação ao falar paulista (culturalmente prestigiado). Foram entrevistados, através de questionários e submetidos à audição de amostras dos falares nordestino e paulista, 20 informantes, considerando-se as variáveis: exposição ou não do contato direto com falantes paulistas e nível de instrução. Após o exame dos dados estatísticos e do estudo das entrevistas, que foram analisadas observando-se os postulados da análise do discurso, os resultados indicaram tendência acentuada dos informantes do grupo B (com viagem a São Paulo) a rejeitarem o falar nordestino e a prestigiarem o falar paulista. Os nordestinos do grupo A (sem viagem a São Paulo) manifestaram também, embora de forma menos acentuada, rejeição e admiração pelo falar paulista. Essa atitude foi, no entanto, mais observada entre os informantes analfabetos e os de primeiro e segundo grau. Os de nível superior e os pós-graduados, tanto do grupo A, quanto do grupo B manifestaram atitudes mais positivas em relação ao falar nordestino, demonstrando também, maior consciência lingüística, à medida que respeitam as variedades dialetais do país, muito embora se tenham comportado de maneira diferente em alguns aspectos, quando em presença de estímulos de falas gravadas. Atitude de insegurança lingüística foi, portanto, bastante evidenciada nessa pesquisa e vários fatores parecem explicar sua origem: 1) o preconceito lingüístico do qual são vítimas os nordestinos quando estão no Sul ou Sudeste do país; 2) a influência nos meios de comunicação que apresentam imagens negativas do Nordeste e, conseqüentemente, dos nordestinos; 3) o desconhecimento lingüístico que leva as pessoas a rejeitarem ou a valorizarem uma variedade lingüística, conforme o nível sócio-econômico cultural de seus usuários; 4) a perda da identidade regional provocada pelo êxodo a que foram obrigados os habitantes das cidades atingidas pela construção do lago de Itaparica. Como as mudanças acabam influenciando os hábitos lingüísticos de uma comunidade, torna-se possível entender as atitudes de insegurança manifestadas pelos informantes dessa pesquisa.
» E-book disponível para acesso na Sala de Leitura César Leal - Centro de Artes e Comunicação - Campus UFPE

0 comentários: