Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

28 de março de 2000

Maria Ester Vieira de Sousa

Discurso de Sala de Aula: as surpresas do previsível

Orientação: Dóris de Arruda Carneiro da Cunha
Área de Concentração: Linguística (Doutorado)

Resumo: Este trabalho tem como objeto de estudo o discurso de sala de aula. Com base nos pressupostos teóricos da Análise de Discurso, objetivamos refletir sobre a heterogeneidade que constitui esse discurso. Por um lado, a instituição Escola, sede desse discurso, impõe regras – lingüísticas e não-lingüísticas – que delimitam a ação de professores e alunos. As regularidades enunciativas observadas em sala de aula resultam dessas condições de produção, que impõem a professores e alunos formas padronizadas de fazer e de dizer. Por outro lado, estes sujeitos não simplesmente cumprem regras, mas as atualizam de forma dinâmica, transformando o discurso em acontecimento. É certo que o professor tende a reproduzir o discurso instituído, do livro didático, da escola. Entretanto, o exercício de sua função institucional não está isento de contradições: a prática revela a dificuldade do professor em lidar com a diversidade e com as diferenças. Em relação ao ensino de língua portuguesa, algumas conclusões podem ser apontadas. O livro didático, mesmo quando se define por uma proposta de trabalho com textos, objetivando os usos da linguagem, revela lacunas, contradições. Falta clareza ao professor – decorrente de lacunas em sua formação teórica e de sua dependência do LD – acerca da concepção de linguagem que norteia (ou deveria nortear) a sua prática de ensino. Disso decorre muitas das contradições e dos conflitos presentes no discurso de sala de aula. A presença efetiva do texto em sala de aula tornou-se, no geral, apenas um emblema de uma perspectiva inovadora de ensino-aprendizagem de língua materna, enunciada pelo discurso oficial, através do MEC, pelos manuais didáticos e pelo próprio professor. A aula de leitura consolida e consagra um método que, ao reiterar um único modo de ler o texto, torna semelhante todo e qualquer texto. Sem negligenciar as condições gerais de produção desse discurso, é preciso investir mais na qualificação do professor para que ele seja capaz de atuar, convincentemente, na sala de aula, de forma a contemplar a heterogeneidade dos sujeitos, da linguagem e dos sentidos e a diversidade do discurso que se produz nesse contexto.

» E-book disponível para acesso na Sala de Leitura César Leal - Centro de Artes e Comunicação - Campus UFPE

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