Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

17 de outubro de 2000

Maria Lúcia Ferreira de Figueirêdo Barbosa

A Polidez no Discurso de Crianças e Adolescentes

Orientação: Judith Hoffnagel
Área de Concentração: Linguística (Doutorado)

Resumo: Este trabalho examina o uso de rotinas de polidez (elogiar e pedir desculpas) em interações diadáticas e multiparte de crianças e adolescentes. O perfil comunicativo dos informantes é descrito com base em estratégias que eles utilizam com vistas a atender necessidades pessoais e sociais surgidas no curso das interações. Elogios e pedidos de desculpas são analisados levando-se em conta o background sociocultural compartilhado por proferidores e destinatários de elogios, bem como por ofensores e ofendidos. Ambas as rotinas são analisadas na perspectiva da sociolingüística interacional (Gumperz, 1982), fundamentando-se o estudo da polidez lingüística em estudos de inspiração pragmática cuja abordagem centra-se nos mecanismos de estratégias de polidez que visam a harmonizar a interação social (Leech, 1983; Brown e Levinson, 1987). O corpus é formado por crianças e adolescentes e compreende 64 elogios e 64 respostas, assim como 33 ofensas e 33 pedidos de desculpas, coletados em conversações, jogos e brincadeiras em situações informais espontâneas. De acordo com os resultados, os informantes de modo geral usam elogios como mecanismos de atender às necessidades de reconhecimento e aprovação dos interlocutores, mas observa-se uma tendência significativa no grupo de adolescentes femininos a trocarem elogios entre si com o objetivo de aprovar e reconhecer aspectos relacionados a auto-imagem das interlocutoras. Do ponto de vista das respostas e elogios, observa-se uma maior desenvoltura no uso de respostas que requerem o manejo de estratégias de polidez em meninas a partir de dez anos de idade. No que se refere à rotina de pedir desculpas, observa-se que os ofensores raramente pedem desculpas, observa-se aos interlocutores. A análise de ofensas e pedidos de desculpas é coerente com a idéia de que os informantes não toleram atos de auto-humilhação. Nota-se a presença de convenções que determinam quais os tipos de atos são ofensivos, tendo-se em vista que o contexto assume um papel relevante na definição da gravidade da ofensa. Uma ofensa pode ser leve ou grave dependendo do contexto de sua realização e de negociações entre ofensores e ofendidos. Os pedidos de desculpas realizados por crianças e adolescentes demonstram que os informantes lidam com o conceito de polidez, mas verifica-se variação em relação a fatores como idade e sexo, uma vez que a operação de estratégias de polidez em pedidos de desculpas ocorre de forma mais consistente a partir de oito anos de idade, sobretudo por parte de falantes femininos. De modo geral, as interações de crianças e adolescentes situam-se a partir de um eixo no qual se centralizam-se os desejos e a s expectativas de cada um dos participantes. O equilíbrio das interações entre eles somente é atendido à medida que os interesses centrais de cada um são respeitados. Evidencia-se portanto um padrão interacional centrado no indivíduo e em suas necessidades, com características peculiares a culturas ocidentais e européias como as descritas por Mao (1994) e Kerbrat-Orecchioni (1994).

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