Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

29 de junho de 1988

Lucila Nogueira

Ideologia como Forma Literária no Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin

Orientação: Francisco César Leal
Área de Concentração: Teoria da Literatura

Resumo: Nosso interesse pela ideologia, conseqüentemente pela Sociocrítica como método de análise literária, resulta da observação de que muitos dos enfoques atuais se caracterizam por desligar a obra da História, esvaziando-a de sua significação na sociedade, a favor de derivações de várias ordens que terminam por dissociá-la de si mesma. A explicação para a proliferação desses mais diversos tipos de abordagem também tem, sem dúvida, uma natureza ideológica: a Literatura, como Grande Amazona na defesa do homem, se constitui numa ameaça permanente aos Estados burocráticos constituídos. De modo que enquanto a crítica oficial das Instituições universitárias concentra seus esforços na estrutura, na psicanálise ou na fenomenologia da obra literária, a sua mensagem política e social e existencial passa ao lado: permanecem invariáveis as conotações referentes à injustiça social, ao esmagamento do homem pelo sistema. Em louvor de uma urgência de cientificidade, tem-se desprezado, em algumas partes do mundo, a crítica ideológica que, contudo, já desponta vitoriosa como método de estudo, em Literatura. O nosso trabalho se propõe a demonstrar a íntima conexão entre poesia e ideologia, sem quaisquer operações redutoras ou artificiais que terminam conferindo ao texto uma anti-significação. Escolhemos o poema “Canto ao Homem do Povo Charlie Chaplin”, de Carlos Drummond de Andrade, por considerarmos que, situando-se historicamente num período que marca não apenas o fim da Segunda Guerra, a nível internacional, mas o término do Estado Novo, na conjuntura política nacional, por tais razões a obra se encontra plena de significação ideológica, a qual, sem quaisquer máscaras redutoras procuramos deslindar, a partir inclusive da forma que lhe serve de expressão. A abordagem sociocrítica devolve ao texto o elemento social que os formalistas haviam deserdado da história literária, e decorre de uma linhagem a que pertencem nomes como Luckács, Goldmann, Bakhtin, Adorno, Macherey e especialmente Pierre Zima, que em seu Manual de Sociocrítica (1985) fornece uma definição precisa à sociologia do texto. Na primeira parte da nossa dissertação, tratamos justamente de discorrer sobre os pressupostos teóricos referentes ao poético e ao ideológico, cuidando de visualizar as várias noções possíveis em suas abordagens por diversos autores. A dinâmica autor-leitor-texto, a função social da obra e do escritor, a relação entre forma poética e estrutura social, literatura e sociedade, bem como as modificações lingüísticas e estilísticas decorrentes da mutação ideológica, tudo isso é matéria presente nestas páginas. Na segunda parte, aplicamos os pressupostos teóricos ao poema eleito para trabalharmos. Levantamos os significantes ideológicos que pulsam no texto, não esquecendo sequer a relação com a obra chapliniana, partindo desde o título, segmentando o poema para análise detalhada em vários trechos de suas VI estâncias, sempre sem esquecer o contexto social a que se referia e em que fora produzido. Também foi objeto de minuciosa abordagem o movimento modernista – no Brasil e em Minas – e as vanguardas internacionais da primeira metade deste século, que motivaram em Carlos Drummond de Andrade uma opção estilística consentânea com a significação ideológica de sua obra poética.

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