Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

18 de dezembro de 1989

Avanilda Torres da Silva

Virtualidades Psicanalíticas numa Aprendizagem ou o “Livro dos Prazeres” de Clarice Lispector

Orientação: Sebastien Joachim
Área de Concentração: Teoria da Literatura

Resumo: O texto que fala é o mesmo que silencia numa dialética de libertação e de aprisionamento. Consciente e inconsciente afloram a todo momento num jogo de inter-relação. Produto e reflexo do ser humano enquanto artífice e criador, o texto literário resgata em lucro e em perda essa dolorosa e contundente “divisão do sujeito”. E quando nós, leitores, pensamos estar sozinhos e preparados para um contato puro e direto com a mensagem que o artista-criador nos transmite, começamos “inconscientemente” a ler com este numa projeção de desejos e fantasias. Enfocar o texto clariceano sob a ótica psicanalítica, nos pareceu um caminho viável e adequado para ir além da comedida denotação, da aparente realidade textual, em busca de uma outra realidade não menos forte e até bem mais provocadora – a dos valores extratextuais – que engloba afetos e emoções. Sabemos das dificuldades que entravam ou dificultam uma articulação entre Literatura e Psicanálise. Há toda uma gama de receios e de recusas a tipos de estudos que adotam uma perigosa psicanalização da figura autoral, da personagem e mesmo da narrativa em si, esquecidos do discurso como “ato de fala” e das potencialidades que o “aspecto formal estético do texto” deixa em aberto. Como ciências autônomas, Literatura e Psicanálise se permitem aproximar no tocante ao seu objeto de estudo, que é o próprio homem. Detentora do inconsciente, a ciência criada por Freud possibilita uma nova forma de “leitura” de um texto literário. Atividade complexa e interminável pelo interesse que a motiva, pois “longe de terminar com a decifração, começa, com ela, a arrolar e desatar os fios que formam o jogo das transformações...”. O ambiente de sonho que caracteriza o universo ficcional clariceano, induziu-se a tentar explicá-lo através da visão freudiana-lacaniana. A Hermenêutica freudiana inaugura a descentralização do sujeito, a transcendência do significado, o poder do inconsciente reconquistado e explicado principalmente por intermédio do sonho. Ler um texto como um “trabalho onírico” é investir na visualidade, na plasticidade, na latência subjacente ao manifesto, na atemporalidade onde explosão e fragmentação se evidenciam. Na esteira de Freud, Lacan procede a uma releitura lingüística da Psicanálise. A ênfase no significado solto e livre é determinante. Nisso ele se distancia de Saussure e do próprio Freud. A metáfora e a metonímia – operações tipicamente lingüísticas – são adaptadas ao processo primário inconsciente de condensação e deslocamento. Partimos da obra “Uma aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, do seu universo de discurso e dos trabalhos por ela suscitados. Sempre que oportuno, utilizamos outros textos de Clarice Lispector associados ao livro em questão, já que nenhuma obra se explica por si só, da mesma forma que um ramo não existe sem a árvore mãe. Destacamos da Teoria Psicanalítica de Freud, elementos aplicáveis ao nosso estudo. Lacan e alguns dos seus seguidores, serviram de reforço para um aproveitamento lingüístico e retórico da obra freudiana. Tentamos focalizar principalmente a personagem central Lóri, na sua “aprendizagem” do ser e do mundo, sem perder de vista o material lingüístico veiculado pelo romance. A fim de que uma representação psíquica se tornasse possível e produtiva literariamente, a caracterização do discurso onírico nos serviu de bússola. Dividimos o nosso trabalho em três partes intimamente interligadas. Na primeira, enfocamos uma escrita que se volta para a inconsciência em virtude de seu alto grau de intuição e de sensibilidade. Assim se apresenta a escrita clariceana. Na segunda parte, já num nível acentuado de inconsciência, de onirismo, enfatizamos a característica de Clarice Lispector em se expressar melhor pelas “entrelinhas”, pela latência. Latência que duela com o conteúdo manifesto do texto-sonho, comedido e enganoso. À medida que este se afigura como o consciente – conhecido e controlado – o “oculto” se reveste de dimensões amplas e desafiantes. Ainda dentro dessa linguagem de sonho, trabalhamos os processos primordiais da linguagem humana (metáfora e metonímia) com seus correspondentes em Psicanálise, a condensação e o deslocamento. Na terceira parte da nossa dissertação, acompanhamos com Clarice a “figura”-sonhadora Lóri na sua experimentação dos mecanismos de desejo e de prazer. Para esse empreendimento, tivemos de nos debruçar sobre a dialética de dois grandes jogos: o do espelho e o do desejo. Através deles, observamos a protagonista nos seus recuos e nas suas investidas, nos seus medos e nas suas motivações. Se na nossa vida diária, desejo e prazer são vivenciados de forma relativamente descomplicada, o mesmo não acontecia com o ser fictício que atravessava essa aprendizagem numa complexidade quase sem limite. Antes, na nossa fase de pesquisa, os conteúdos psicanalíticos que se adequavam a essas temáticas, tinham sido lidos e destacados com relativa facilidade. Agora, no momento da aplicação percebíamos que aqueles conceitos precisavam ser “sentidos e amadurecidos” a nível profundo. Havia em nós a angústia de incorrer na existencialização da personagem, privando o leitor/receptor de fazer reconstruir através da “figura” clariceana um leque de problemas humanos.

» E-book disponível para acesso na Sala de Leitura César Leal - Centro de Artes e Comunicação - Campus UFPE

7 de dezembro de 1989

Marlos de Barros Pessoa

Atitudes Lingüísticas de Professores da Área de Língua Portuguesa em Escolas Públicas na Região Metropolitana do Recife

Orientação: Adair Pimentel Palácio
Área de Concentração: Linguística

Resumo: Este trabalho objetiva a identificação de atitudes lingüísticas de professoras de língua portuguesa e metodologia da língua portuguesa em relação à variedade não prestigiosa do português em escolas públicas de magistério na Região Metropolitana do Recife, ademais a pesquisa aponta mecanismos reprodutores de tais atitudes dentro da escola. Ao final, apresentamos uma proposta para a capacitação dessas professoras que visam combater essas atitudes através da conscientização. Tomando uma amostra intencional de professoras e alunos, utilizando o “matched-guise technique”, montamos alguns instrumentos para coleta de dados, buscando captar atitudes discriminatórias em relação à variação social dentro da Língua Portuguesa, identificada entre alunos de escolas públicas, em comparação com a fala de alunos de camadas mais privilegiadas, todos do 1º grau da nossa região. Detectadas as atitudes lingüísticas, francamente preconceituosas em relação aos usos dos alunos de escola pública – além de outras atitudes acientíficas e acríticas sobre a linguagem -, e partindo do papel da escola enquanto reprodutora da ideologia dominante, mostramos como, através da gramática normativa, no capítulo “vícius de linguagem”, e dos conteúdos programáticos das disciplinas Língua Portuguesa e Metodologia da Língua Portuguesa, se mantém essa reprodução, concretizada na negação da variação lingüística. Em face dos resultados, urge que a Secretaria de Educação do Estado desenvolva um trabalho de capacitação com essas professoras para que elas possam superar o seu atual estado de ideologização. Por isso, apresentamos uma proposta para “desvelamento da ideologia para compreensão do funcionamento desta sociedade”; “apreensão do aspecto social da linguagem”; e “estudo da fala, como forma de combate ao preconceito lingüístico”.


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