Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

26 de outubro de 2001

João Denys Araújo Leite

Um Teatro da Morte: transfiguração poético do Bumba-meu-Boi e desvelamento sociocultural na dramaturgia de Joaquim Cardozo

Orientação: Ricardo Bigi de Alquino
Área de Concentração: Teoria da Literatura

Resumo: Este trabalho estuda a obra dramatúrgica de Joaquim Cardozo tomando como enfoque principal as obras O Coronel de Macambira(1963), De uma Noite de Festa(1971) e Marechal, Boi de Carro(1975), todas compostas como gênero teatral Bumba-meu-Boi. A investigação desta trilogia demonstra como o autor opera uma transfiguração poética da manifestação popular Bumba-meu-Boi e desvela significativas relações socioculturais. Numa visada interdisciplinar, de base cultural, este estudo busca inaugurar uma abordagem crítica da dramaturgia cardoziana. Tal esforço possibilita examinar pilares importantes da estrutura teatral do Bumba, enquanto produto artístico das camadas subalternas da sociedade brasileira e como produto das pesquisas de folcloristas, antropólogos e intelectuais. A análise retoma, outrossim, um debate sobre literatura teatral e cultura popular, e o folclore. A diversidade de fragmentos temáticos apresentados, ou postos em questão, busca revelar como Cardozo constrói uma poética teatral moderna. Essa construção entrecruza elementos dos questionamentos e debates seculares, acima aludidos, com um universo de influências dramatúrgicas antigas e contemporâneas. Dessas influências, destacam-se expressões culturais locais com partículas de algumas expressões teatrais e filosóficas do Oriente, com empréstimos tomados das ciências, com um intenso trabalho com a linguagem, com cenas fragmentadas, múltiplas e diversas que apontam para um teatro épico moderno. Ao reiterar em todos os seus Bumbas as mais variadas e fundantes concepções de morte, reerguendo e dando vida a personagens e episódios da História dos deserdados, em contraponto com a História dos donos do poder, o autor consolida uma obra letrada de perspectiva eminentemente popular. Esta obra super-regionalista, em sua atualidade crítica, distende a visão do ser humano plantado em seu chão, conferindo-lhe uma dimensão cósmica. Urdindo um texto teatral singular, em que a região é delineada como espaço de fronteiras arbitrárias, Cardozo se apropria da principal matéria-prima de sua criação – transformando-a por meio de torções e distensões análogas às realizadas pelos topólogos – reordena, estabelece e insere o Bumba na tradição do texto teatral escrito, criando um conjunto dramatúrgico híbrido, mas absoluto em sua teatralidade, marcado por um discurso incisivo contra toda vida destrutiva, ao qual denominamos um teatro da morte.

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24 de outubro de 2001

Cinthya Lúcia Martins Torres Saraiva de Melo

Anáfora Indireta Esquemática Pronominal: uma anáfora coletiva e genérica e coletiva restritiva

Orientação: Luiz Antonio Marcuschi
Área de Concentração: Linguística

Resumo: O propósito deste trabalho é, essencialmente, investigar o comportamento da anáfora indireta esquemática pronominal de terceira pessoa do plural (AIEP) cujos referentes não estão explicitados do texto, mas ativados a partir de uma âncora textual que projeta os referentes de forma representacional. Nessa perspectiva, o pronome não é visto como tradicionalmente postulado, isto é, um anafórico que deveria necessariamente retomar um outro elemento anteriormente explicitado na contextualidade mantendo, contudo, a coesão e a coerência discursiva. Nosso objetivo é mostrar que essa anáfora se realiza mediante dois processos: (1) inferencial, caracterizado pela ativação de referentes identificáveis através de um coletivo genérico, enquadrado no universo das representações conceituais criando um espaço mental de estruturação auxiliado pelo contexto; e (2) cognitivo, caracterizado pela seleção de referentes identificados através de um coletivo restritivo, enquadrado no universo das representações semânticas criando um espaço mental de estruturação auxiliado pelo contexto. Como apoio teórico utilizamos a Lingüística de Texto, a Lingüística Cognitiva e a Lingüística Pragmática, que permitem explicar esses processos. Para tanto, recorremos aos estudos de L.A. Marcuschi (1998a, 2000, 2001a) e outros citados na bibliografia, por ter o autor desenvolvido um estudo pioneiro e sistemático da AIEP sob a perspectiva da referenciação. O corpus é composto de 10 gravações de telejornais e de 12 entrevistas coletadas nas revistas Veja e Você S.A., dois gêneros que se caracterizam como textos de mescla (produzidos num meio e recebidos em outro). As análises realizadas mostram que as AIEPs são mais comuns nas entrevistas da Veja e Você S.A. do que nos telejornais, mas sempre ocorrem de acordo com a intencionalidade de seus produtores. Também foi constatado que, embora típica da oralidade, essa estratégia não se restringe aos textos tipicamente falados, o que reforça a idéia de que o telejornal representa a escrita em formato padrão habitual, caracterizando-se como um gênero que não representa a fala, mas uma oralização da escrita.

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23 de outubro de 2001

Sandra Carla Ferreira de Castro

A Retórica dos Links no Hipertexto

Orientação: Luiz Antônio Marcuschi
Área de Concentração: Linguística

Resumo: Numa perspectiva mais ampla, este trabalho analisa a escritura eletrônica não-seqüencial e não-linear: o hipertexto, em um ambiente natural na rede mundial. Através dessa ferramenta, investiga, especificamente, a natureza das ligações eletrônicas estruturadas em itens lexicais, sintagmáticas ou ícones: o link. Tomando por base sugestões de Nicholas C. Burbules (1998), serão verificados: (a) os processos de seleção de um determinado item lexical ou sintagma para a formação de um link; (b) os valore envolvidos nessa decisão; (c) as redes semântico-pragmáticas estabelecidas por eles. No que diz respeito às análises, é necessário deixar claro que não há um corpus, uma vez que num trabalho hipertextual, a montagem de um corpus surge como impraticável, pois é impossível mapear todas as interconexões existentes na rede (web). Por isso, tornou-se mais pertinente a análise de domínios discursivos, no intuito de garantir, o quanto possível, a realidade virtual. A partir dessas análises, foi verificado que os links não são simplesmente elementos retóricos, porque exploram o estilo (figuras de linguagem), mas porque articulam idéias, argumentos, na medida em que contribuem para atrair o internauta, bem como mantê-lo “preso” ao site. Isso ratifica a conclusão de que os links são elementos persuasivo, pois contribuem para formar uma rede semântico-pragmática de informações.

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3 de outubro de 2001

Manoel Joaquim Leite Neto

A Fala do Sertanejo de Cedro-Sertão Central de Pernambuco

Orientação: Nelly Medeiros de Carvalho
Área de Concentração: Linguística

Resumo: O propósito do presente trabalho é documentar a variedade da língua portuguesa falada pelo sertanejo do município de Cedro, Sertão Central de Pernambuco, no tocante aos aspectos morfológicos tidos como formas estigmatizadas, levando-se em consideração a ocorrência dos seguintes fenômenos: acréscimo/diminuição e transposição/permuta de fonemas. Partimos da hipótese de que, longe de estar eivada de erros, essa variedade, apenas reflete, por um lado, em certos momentos, estágios passados da língua quando faz, por exemplo, uso de termos arcaicos: prumode, pregunta, adispois, luita etc. e, por outro lado, noutros momentos, ao usar termos diferenciados da norma padrão, tais como: adoar, ajogar, improbir, desfraco, arrepara, etc., nada mais faz do que utilizar-se dos recursos da própria língua, como a analogia e a generalização tão largamente utilizados pelos falantes na evolução do próprio idioma. Foram entrevistados 34 informantes, considerando-se as seguintes variáveis: faixa etária, distribuição geográfica (zona urbana e rural), e grau de instrução. Verificamos que formas consideradas mais estigmatizadas embora se façam presentes na fala de todos os informantes, é na dos mais idosos que elas se manifestam em maior escala, o que nos leva entender que quanto a estes há uma grande resistência às mudanças e quanto àqueles há uma progressiva diminuição do uso dessas formas estigmatizadas.

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