Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

23 de maio de 2000

Carlos Alberto Domingues do Nascimento

O Estatuto Lógico-Semântico do Discurso Delirante: a irrelevância da definição psiquiátrica do delírio

Orientação: Judith Hoffnagel
Área de Concentração: Linguística (Doutorado)

Resumo: O estudo objetivou uma crítica negativa à concepção psiquiátrica que define o delírio como um discurso falseador da realidade. Para tanto, empreendeu-se a análise do delírio inverossímil e verossímel, procurando-se observar se, no ato proposicional correspondente a cada um, dá-se a realização de um ato referencial e um ato predicativo que satisfaz as condições lógico-semânticas próprias a uma descrição falsa da realidade. O corpus escolhido foi o texto Memórias de um Doente dos Nervos, escrito por Daniel Paul Schreber. Os segmentos discursivos analisados, aqueles que se afiguram como assertivos, foram editados na forma de asserções predicativas singulares. Com a edição, reduziu-se o segmento textual escolhido a uma estrutura frasal composta de um termo singular e um termo predicado, que permitiram, respectivamente, a avaliação do ato referencial e do ato predicativo de cada tipo de ato de fala delirante (verossímil e inverossímil). Os resultados mostraram que o delírio tanto consiste de pseudo-asserções, ou seja, enunciados sem valor de verdade, como de asserções verdadeiras ou falsas. Constatamos, então, que a definição psiquiátrica, ao recorrer à falsidade, usa uma propriedade que nem é essencial à compreensão do termo delírio e nem serve à identificação do fenômeno por ele designado. Nesse contexto, concluímos que a definição psiquiátrica é equivocada, trivial, contraditória e revela a verdadeira natureza da linguagem delirante: um discurso poético com o qual se dá a expressão das representações de quem o formula, daquele que é delirante.

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