Aquivo Digital da Pós-Graduação em Letras UFPE

26 de setembro de 1994

Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante

O Gesto de Apontar como Processo de Co-Construção na Interação Mãe-Criança

Orientação: Luiz Antonio Marcuschi e Maria da Conceição D. P. de Lyra
Área de Concentração: Linguística

Resumo: Abordando a perspectiva que concebe o desenvolvimento da comunicação como um processo dialógico entre parceiros (De Lemos, 1985; Fogel, 1993; Lyra & Rossetti-Ferreira, 1993), esta dissertação de mestrado focaliza o desenvolvimento do gesto de apontar, considerado na literatura como um dos precursores da referência lingüística (Werner e Kaplan, 1963; Clark, 1978; Wales, 1979; Bates; Marcos, 1992), que emerge entre o primeiro e o segundo ano de vida da criança. Com este objetivo, foram efetuados quinzenalmente registros em vídeo cassete de uma díade mãe-criança em situação natural, entre os treze e vinte meses de vida da criança. Concebendo o gesto de apontar como um elemento do processo comunicativo que se desenvolve a partir de um processo de co-construção diádica, os dados analisados sugerem um processo de transformação que pode ser descrito ao longo de três momentos de construção do gesto durante o período observado, ou seja: primeiro o apontar parece ser usado pela criança como um novo elemento, como um gesto especular já usado pelo adulto. Neste momento, a morfologia conversacional do apontar é mais freqüente, o olhar dirigido ao parceiro é pouco freqüente, as vocalizações se assemelham a gritos e o episódio interativo se apresenta com pouca quantidade de turnos entre os parceiros. No momento posterior, o gesto de apontar assume diferentes morfologias – a criança utiliza-se de ambas as mãos, usando dois, três, quatro dedos ou toda a mão para apontar; o direcionamento do olhar para o parceiro é mais freqüente que no momento anterior; as vocalizações aproximam-se de palavras, destacando-se uma maior freqüência no uso da entoação alta; o número de turnos aumenta, evidenciando a presença de um elevado grau de “stress” nos episódios interativos, através de um tipo de “elaboração” na forma motor/gestual. No terceiro momento, o apontar parece mais evidente em sua morfologia conversacional; as vocalizações são similares a palavras da linguagem verbal; o número de turnos apresenta-se mais reduzido e os episódios menos “stressados”, salientando que o tipo de “stress” apresentado neste momento se evidencia mais através da vocalização do que através de uma “elaboração” na forma motor/gestual. O apontar é discutido como um elemento comunicativo co-construído através de um processo de negociação co-regulada entre os parceiros, ao longo do tempo. As peculiaridades do processo de co-regulação dos parceiros estabelecidas através de formas de extensão e abreviação das interações são discutidas como perspectivas para se descrever o processo de co-construção do gesto de apontar.

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